segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sistema de Ensino ou de Profissão

"Bebida é água!
 Comida é pasto!
 Você tem sede de quê?

 Você tem fome de quê?", trecho de "Comida" dos Titãs.

Em meados dos anos 80, eu estava pleiteando uma bolsa de intercâmbio para estudar um ano nos EUA ou na Europa pelo American Field Services no Brasil (AFS). Neste ´processo entrei em contato com um conto de ficção científica de Isaac Asimov do livro "Nove Amanhãs" chamado "Profissão".

Isaak Yudavich Azimov

É um flashback da vida de George Platen, que tinha por objetivo ser Programador de Computadores registrado e viver em mundo nível "A", algo que só 13% das pessoas conseguiam.

Nesta época, os terráqueos já haviam conquistado a galáxia e habitavam vários planetas, ou mundos, como preferiam chamar. 

Nas suas vidas existiam três momentos importantes: o "Dia da Leitura", o "Dia da Educação" e as "Olimpíadas".

No "Dia da Leitura", as crianças de oito anos, são levadas até um determinado local, onde um médico realiza uma série de procedimentos, colocando fios na cabeça e um capacete, ligado a uma máquina, enquanto as crianças adormecem e depois despertam já sabendo ler.


No "Dia da Educação" -- na minha memória era "Dia da Profissão" --, aos dezoito anos, o mesmo acontecia, os rapazes e as moças, são levados a estes locais e de acordo com a aptidão determinada pelos analistas uma profissão é ensinada, em um processo similar a leitura.

Já nas "Olimpíadas", em resumo, os melhores profissionais competiam entre si e eram premiados e lavados para mundos melhores -- isso lembra alguma coisa?


O que me impressiona é a sensibilidade e a genialidade do Asimov, ao trazer um desfecho surpreendente, que não vou revelar, e apresentar de forma de tão nua e crua o nosso processo de ensino, que nos é apresentado como de aprendizado e busca pelo saber, mas é para nos dar uma PROFISSÃO, nos tornar útil para a sociedade.


Aprendi que escolas, faculdades e universidades são templos do saber, mas se observarmos com mais calma vamos notar que são centros de formação profissional.


Alunos buscam o "Dia da Profissão", mesmo que dure dois ou quatro anos, na melhor "grife" possível, pois  empresas farão seleções pela "marca" de seu diploma. E, por conta disso, suportarão inclusive as piores aulas, professores e experiências, persistindo até completar seus cursos. 

Mas se o ensino é fundamental, o assunto é fundamentalmente a nota. Recentemente troquei meus filhos de escola e a principal conversa em cada visita nas instituições era sobre o sistema de avaliação e como acompanhar as notas. Alguém está ocupado com o aprender para a vida? Com resolução de problemas reais? 

Onde estamos preparando os, necessários, cidadãos? As pessoas, que vêm antes dos profissionais, que aliás, terão várias profissões, e serão mais que sua formação -- assim espero. 

Por quê nos coisificamos?  Por que quando nos perguntam: você é o quê? Prontamente respondemos nossa formação, nossa profissão. Por muitas vezes passei a responder ser humano, e a reação era de estranheza.

Em épocas de eleição falamos muito em cidadania, mas mas temos um processo que desenvolva o cidadão e o profissional de forma integrada? Que ajude a descobrir a vocação, aumentando as chances de sucesso, ao invés de investir na profissão do momento?

Quantos entram em "Ciências da Computação" pensando que serão Steve Jobs ou Bill Gates? E, pior, quantos seguem carreiras que detestam, sendo profissionais medíocres -- que significa na média -- perdendo a chance de serem muito melhores em outras coisas!

É preciso formar cidadãos profissionais! Gente que descubra onde aplicar melhor os seus talentos e serem remunerados por isso!

É preciso um sistema de aprendizado, que ensine a aprender!











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